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Trecho do livro: “Um Vigilante e um Ladrão”, de Megha Majumdar

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Finalista do National Book Award, Megha Majumdar “Um Guardião e um Ladrão” (Knopf) se passa na Índia, em um futuro próximo devastado pelo clima, onde uma mãe que se prepara para mudar sua família para a América acorda e descobre que um jovem faminto roubou todos os seus passaportes – mergulhando-a em sete dias de desespero e acerto de contas moral.

Leia um trecho abaixo.


“Um Vigilante e um Ladrão”, de Megha Majumdar

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Do armazém escondido debaixo da escada, a mãe tirou uma chávena de arroz e um saco de ovos salpicados de cinzento como a lua, depois cozinhou, parada diante do fogo azul do fogão, olhando pela janela e para o crepúsculo em que os morcegos voavam e a árvore de neem tremia e uma figura pedalava e assobiava na rua lá em baixo como se tudo estivesse bem.

Ladrão, mamãe pensou. Quem, além de uma pessoa que encontrou vegetais ou frutas frescas, vagaria pela cidade de Calcutá neste ano arruinado, o calor como uma mão na boca, o sol como uma arma apontada para a cabeça, e se lembraria de uma música? Ela observou o que o ladrão faria. Ele passou de bicicleta. Mas Ma viu surgir outra realidade, na qual ele encostou a bicicleta na parede, subiu nos canos como um tornado e apareceu na janela dela. Nesta foto, o ladrão era um coletor de informações locais, escutando atentamente em sua vizinhança e seguindo com sabedoria o que ouviu sobre as caixas de cebolas e cenouras, os sacos de lentilhas e arroz, os sacos de passas e castanhas de caju escondidos no punho escuro da casa, roubados de Ma para doações ao abrigo de animais onde ela trabalhava, enquanto a cidade clamava lá fora por um punhado de algo para comer.

Houve uma deficiência – com o rótulo aceito pela região.

No ano que antecedeu aquele dia, os agricultores de toda a região tinham caído, os seus corpos febris no ar que já não arrefecia. Nas terras aráveis, entre máquinas ociosas, as pragas vagavam de campo em campo, de forma brutal durante a colheita dos grãos. No oeste, uma seca dividiu os leitos dos rios e no leste, a água salgada contaminou os arrozais. Na cidade, aqueles que iam aos mercados de bairro com guarda-chuvas na mão e listas de desejos nos bolsos e cantos largos de jornais com escrita em bengali – repolho, gengibre, lichias se fossem bons, sorvete, meio pão – encontravam as ruas onde os mercados costumavam ficar, suas cestas e lonas, riquixás e carros buzinando, compradores lentos observando o brilho roxo das berinjelas e goiabas pressionavam vigorosamente o granizo, em vez disso completamente vazio, nada além de algumas cascas de cebola espalhadas nas bordas onde a calçada encontrava a terra, onde na maioria dos dias cabras e vacas vagavam pelo chão em busca de algo para comer. Mas estes animais também desapareceram.

Já tinha acontecido antes. 1770, quando a colheita falhou e os enfraquecidos foram atingidos pela varíola. Em 1876, quando o Planalto de Deccan foi atingido pela seca e os britânicos continuaram a exportar os grãos restantes. 1943. Aquelas fotos de jornal em preto e branco em que as pessoas apareciam com olhos fundos e membros finos, diante de um fotógrafo que nada podia fazer por elas, sua plenitude – seu amor, seu humor, sua raiva, seu carinho – foi reduzida através da lente para mostrar o que restava, ou seja, a fome.


Trecho de
“Um Vigilante e um Ladrão”, de Megha Majumdar. Direitos autorais © 2025 Megha Majumdar. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste trecho pode ser reproduzida ou reimpressa sem permissão por escrito do editor.


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