Início ANDROID Hormônio natural ativa interruptor oculto de queima de gordura

Hormônio natural ativa interruptor oculto de queima de gordura

38
0

Estudos em ratos mostram que os hormônios produzidos no intestino podem enviar sinais ao cérebro e influenciar a quantidade de energia que o corpo utiliza. O hormônio, chamado FGF19 (fator de crescimento de fibroblastos 19), ativa processos que ajudam o corpo a consumir mais energia, usar a gordura armazenada como combustível e melhorar o controle do peso e os níveis de açúcar no sangue em animais obesos.

Os investigadores associaram estes efeitos ao papel do FGF19 no hipotálamo, uma região-chave do cérebro que recebe informações do resto do corpo e do ambiente para coordenar o metabolismo energético. Eles descobriram que quando o FGF19 sinaliza no hipotálamo, aumenta a atividade das células adiposas termogênicas (células adiposas que queimam energia para produzir calor), que são células adiposas especializadas que ajudam o corpo a gerar calor em vez de armazenar calorias.

Novas maneiras de tratar obesidade e diabetes

Devido a estas descobertas, os cientistas acreditam que o FGF19 poderá inspirar novos medicamentos para tratar a obesidade, a diabetes e outras doenças metabólicas. A ideia é desenvolver compostos que imitem o comportamento de substâncias naturais do corpo, imitando os efeitos de compostos endógenos (ou seja, compostos produzidos pelo próprio corpo).

Esta estratégia é semelhante à forma como alguns dos mais recentes medicamentos para diabetes e obesidade funcionam. Por exemplo, Ozempic contém semaglutida, um ingrediente que ativa os receptores GLP-1 que imitam o hormônio. Ao fazer isso, envia sinais de saciedade ao cérebro, ajudando os pacientes a se sentirem saciados com menos comida.

Segundo o estudo, o FGF19 faz mais do que apenas alterar o apetite ou o armazenamento de gordura. Esse hormônio também reduz a inflamação periférica e aumenta a tolerância do animal ao frio. No entanto, quando os investigadores bloquearam o sistema nervoso simpático, estes benefícios desapareceram. Em experiências posteriores, observaram que a exposição ao frio aumentou a expressão do receptor FGF19 no hipotálamo. Uma vez que o hipotálamo é fundamental para a manutenção da temperatura corporal, estes resultados sugerem que o FGF19 pode ajudar o corpo a adaptar-se, coordenando o equilíbrio energético e a termorregulação.

FGF19, termogênese e controle de energia cerebral

“O FGF19 já foi associado à redução da ingestão alimentar. Nosso trabalho abre novos caminhos, mostrando que ele também desempenha um papel importante ao atuar no hipotálamo e estimular o aumento do gasto energético no tecido adiposo branco e marrom. Ou seja, além de controlar o apetite, também estimula a termogênese. Portanto, é de interesse em termos de tratamentos relacionados à obesidade”, explica a professora Helena Cristina de Lima Barbosa, do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades. (OCRC) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

O OCRC, Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, também financiou o projeto por meio de uma bolsa concedida ao doutorando Lucas Zangerolamo, primeiro autor do estudo orientado por Barbosa.

O trabalho foi descrito detalhadamente em um artigo publicado no American Journal of Physiology – Endocrinology & Metabolism e listado como Hot Article em maio.

A crise global da obesidade e os objectivos urgentes em matéria de saúde

O Atlas Mundial da Obesidade 2025 alerta que as metas globais de saúde deste ano não serão alcançadas se as tendências atuais continuarem. As metas incluem travar o aumento da diabetes e da obesidade e reduzir as mortes prematuras por doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crónicas e cancro em 25%, utilizando o ano de referência de 2010.

O Atlas estima que mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo sofrem atualmente de obesidade. Se não forem tomadas medidas eficazes, este número poderá ultrapassar 1,5 mil milhões até 2030. A obesidade tem sido associada a aproximadamente 1,6 milhões de mortes prematuras devido a doenças não transmissíveis todos os anos.

No Brasil, aproximadamente 31% da população é obesa. Além disso, 40% a 50% dos adultos não atingem os níveis recomendados de atividade física em termos de frequência ou intensidade.

De onde vem o FGF19 e ​​como funciona

O FGF19 está envolvido no controle do metabolismo energético e é produzido principalmente no intestino delgado. No fígado, regula a produção de ácidos biliares e também afeta a síntese de glicose e gordura. Embora o seu papel principal no fígado tenha sido amplamente discutido na literatura científica, os seus efeitos no cérebro têm recebido menos atenção.

“Em laboratório estudamos os ácidos biliares, que também são tema do meu mestrado, e eles regulam a liberação do FGF-19. Nossos estudos preliminares nos levaram nesse caminho”, disse Zangerolamo à Agência FAPESP.

Às oito semanas de idade, os ratos utilizados no estudo foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos. Um grupo recebeu dieta padrão (grupo controle) e o outro recebeu dieta rica em gordura para induzir obesidade. Os pesquisadores então injetaram o FGF19 diretamente no cérebro de animais obesos. Todos os ratos foram alojados sob condições estritamente controladas de temperatura, luz e água.

No artigo, os cientistas relatam que a sinalização central do FGF19 melhora a homeostase energética. Faz isso aumentando a atividade do sistema nervoso simpático e estimulando a termogênese no tecido adiposo, fazendo com que o tecido consuma mais energia na forma de calor.

“O cérebro desempenha um papel extremamente importante no controle da obesidade no corpo. Ao receber informações dos tecidos circundantes, ele aciona comandos. Esses comandos aparentemente utilizam o sistema nervoso simpático e parecem ser uma forma interessante de pensar sobre o gasto energético”, acrescentou Barbosa.

Um olhar mais atento sobre as células cerebrais e o receptor FGF19

Para entender melhor quais células cerebrais respondem ao FGF19, os autores organizaram e examinaram dados públicos de scRNA-seq de vários estudos hipotalâmicos. Este método pode sequenciar o RNA de células individuais, revelando quais genes estão ativos em cada tipo de célula. No total, a equipe de pesquisa avaliou a transcrição em mais de 50 mil células individuais para identificar as populações de células hipotalâmicas que expressam o receptor FGF19.

Os investigadores observam que uma questão chave agora é como encorajar o corpo a produzir mais FGF19 por si próprio. Eles também estão trabalhando para conectar essas descobertas ao que se sabe sobre os circuitos neurais que regulam o comportamento alimentar.

“Queremos ampliar esse entendimento. Estamos estudando o hipotálamo para avaliar a inflamação que é comum em uma dieta rica em gordura e se o FGF19 desempenha um papel nessa região”, disse Zangerolamo, que concluiu parte do trabalho com o professor Yuhua Zeng (também autor do artigo) enquanto era estagiário no Joslin Diabetes Center da Harvard Medical School.

Source link